Programa de Pós Graduação em Biologia abre novos caminhos para o controle de doenças virais na Amazônia.

 

Pesquisas desenvolvidas pelo PPGBAIP da UFPA têm ajudado a desvendar um pouco mais acerca do universo científico e biológico de populações humanas e animais  na Amazônia, ajudando, inclusive, a apontar soluções para controle de doenças na região. Um dos trabalhos identificou, recentemente, cinco indivíduos imunes a AIDS no Pará, apesar de serem portadores do vírus da Imunodeficiência Humana (HIV).

Em linhas gerias, isso significa que o sistema imunológico dessas pessoas possui uma defesa natural contra o vírus e, portanto, a probabilidade de desenvolverem os problemas associados à doença é praticamente nula, podendo inclusive nunca chegar  a desenvolver qualquer sintoma, mesmo sem fazer a terapia retroviral. Eles são os chamados “controladores de elite” capazes de de manter níveis indetectáveis de carga viral por longos períodos) e de Viremia (que apresentam carga viral baixa, mas detectável nos exames laboratoriais)

 

A descoberta reacendeu um possível caminho para o controle da doença e acendeu um alerta entre os pesquisadores da UFPA. De 2012 até junho deste ano, 5.448 casos de contaminação pelo HIV foram registrado no Pará, de acordo com os dados divulgados pela Secretaria Estadual de Saúde Pública. Do total de infectados pelo vírus, 3.885 se declararam heterossexuais na faixa etária de 20 a 40. Os homens ainda predominam nas estatísticas. No período, 3.444 pessoas do sexo masculino foram diagnosticadas com o vírus, contra 2.004 registros femininos.  

Para identificar os controladores, o doutor Antonio Carlos Rosário Vallinoto , coordenador do grupo de pesquisadores da área da Virologia , explica que foram necessários dois anos de uma intensa análise das amostras armazenadas desde 1997 no laboratório da UFPA. Para se ter uma ideia, semanalmente cerca de 200 amostras são encaminhadas ao laboratório de diversos pontos da rede de saúde para análise da carga viral. Para ele, a exta compreensão dos mecanismos biológicos que norteiam a não progressão para a AIDS entre os Controladores de Elite e de Viremia, poderá trazer grandes avanços para o tratamento e possível cura da doença.

Em meio aos esforços para o controle da doença, o alerta dado pelo pesquisador é quanto aos riscos acerca do tratamento imediato recentemente preconizado pelos órgãos da saúde. “Isso tem seu prós e contras. Tem a corrente que defende, mas isso não é uma unanimidade entre os pesquisadores. Quando a gente olha essa pessoas que não precisam fazer uso algum de medicação, ainda que representem uma parcela mínima do todo, é complicado, porque elas vão fazer uso  desse remédios  sem precisarem e isso pode acarretar sim complicações. Além disso, a gente acaba perdendo um grupo que parece naturalmente controlar a infecção. Estudá-lo é fundamental”, defende Vallinoto.

 

ATUAÇÃO CIENTÍFICA

 

Ainda na linha da virologia, o Programa desenvolve pesquisas voltadas para a nanotecnologia quanto a produção de vacinas e também com o estudo de vírus emergentes, através do Instituto Evandro Chagas, a exemplo do zica vírus. Na área de taxonomia de Helmintos,  estão os professores doutores Jeannie dos Santos e Adriano Furtado. Na linha de Protozoologia atuam as professoras Marinete Póvoa, com estudos sobre a malária e outros vetores, e Edilene Oliveira, na pesquisa sobre novos fármacos a partir de bioprodutos no combate a leishmaniose.

Atualmente, o Programa de Pós- Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários  (BAIP) da UFPA é o único de nível 5 fora da região Sudeste e Distrito Federal, que aborda áreas de Imunologia, Microbiologia e Parasitologia em todos os seus contextos. A avaliação, numa escala de 3 a 7, é da Coordenação de Apoio e Aperfeiçoamento de Pessoal e Nível Superior (CAPES)- Fundação vinculada ao Ministério da Educação (MEC) responsável pela expansão e consolidação stricto sensu (mestrado e doutorado) no Brasil.

O reconhecimento e a constante produção acadêmica e científica têm proporcionado  parcerias com diversas instituições nacionais e internacionais, integrando o Programa de Estudantes- Convênio de Pós-Graduação (PEC-PG), que proporciona intercâmbio a professores universitários, pesquisadores, profissionais e graduados do ensino superior de países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém Acordo de Cooperação Educacional, Cultural ou de Ciência e tecnologia. Ao todo, o BAIP conta com 36 alunos de mestrado e 62 de doutorado.

O doutorando Davi Fernandes Conga, 32 anos, foi um dos que optaram pela pós-graduação ofertada pela UFPA. Formado em Veterinária pela Universidad nacional Mayor de San Marcos, em Lima, no Peru, ele chegou ao Pará em busca de conhecimento na sua área de pesquisa, de “Taxonomia de Helmintos”. Antes de chegar à UFPA, ele cursou mestrado em Saúde  e Produção Animal, na Universidade federal Rural da Amazônia (UFRA), sob a orientação do professor Nicolau Serra Freire.

Através de seu orientador, Davi também conheceu o BAIP da UFPA. “Antes de tudo, vim pela oportunidade de aprender outra língua, outra cultura e estudar e produzir aqui com o material coletado lá com animais silvestres, e acredito que fiz a escolha certa”, diz. Na UFPA ele é orientado pela professora Jeannie dos Santos. Além dele o programa conta com outros alunos  estrangeiros de países como a Colômbia, Honduras e Moçambique.

Outro braço de atuação do Programa é o fortalecimento de outras pós-graduações na formação de mestres e doutores tanto no Pará quanto em outros estados da região Norte. A exemplo do Acre, do Amapá e de Rondônia, Roraima. “O Programa sempre teve um histórico de formação muito grande, de pessoas dispostas a saírem de sua zona de conforto e difundir conteúdo. E esse reconhecimento nos permite, cada vez mais,  contribuir com a formação de mestres e doutores, em toda a região”, destaca o coordenador do BAIP, doutor Adriano Furtado.

Neste ano, com o término do quadriênio avaliativo, a expectativa do corpo docente é subir mais um degrau e obter a nota 6 junto a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), quando a pós-graduação desempenha uma elevada e relevante produção científica e quando ela mantém parcerias internacionais consolidadas. “A gente tem batalhado muito nos últimos anos para isso e estamos confiantes. Não só pelo mero reconhecimento, mas sobretudo porque isso tem um impacto grande no desenvolvimento das nossa pesquisas. É por essa avaliação que são destinados os aportes para a manutenção das pesquisas”, explica Furtado.

Na última avaliação realizada pela CAPES, em 2013, o Brasil apresentava 32 programas vinculados a área de Ciências Biológicas III, sendo que apenas  cinco estavam localizados na Região Norte (três no Pará, um em Rondônia e um no Amazonas). No relatório de avaliação, concluiu-se a que a Região Sudeste concentra a maior quantidade de PPGs, que apresentam maiores notas, sendo a única região do país com programas de conceito 6 e 7. Nas outras Unidades da Federação, apenas o Pará e o Distrito Federal apresentam PPG com nota 5.

Entretanto, apesar da expectativa pela avaliação do trabalho realizado nos últimos quatro anos, o resultado de 2016 só deverá ser divulgado, de fato, em 2018. Isto porque as instituições têm até o início de 2017 para enviar os relatórios dos projetos e somente no segundo semestre o comitê avaliador se reúne para decidir sobre as notas dos PPGs. A divulgação ocorre então entre o fianl de 2017 e o início de 2018. “Muita coisa já foi feita, mas tenho certeza que poderemos fazer ainda mais. Nossa luta é para que consigamos cada vez mais contribuir com a nossa região e a sociedade em geral”, finaliza Adriano Furtado.

 

Fonte: Revista Amazônia Viva, novembro de 2016.